Flá @ 22:48

Sex, 19/04/13

            Elas falam. Balem. Falam. Falam mais um bocado e zurram outro tanto. Fazem um drama por lhes acabar a tinta da caneta e outro ainda maior e mais barulhento por encontrarem um cabelo espigado.

 

            Feias. Burras. Trapalhonas. Doentiamente vaidosas.

            Insuportavelmente irritantes!

 

            Imagino durante longos minutos (e não poucas vezes) os seus cabelos pintados a irem pelos ares. Imagino aqueles crânios despedaçados. Estilhaçados. Em cacos! Quero-os pisar. Quero pisar os cacos. Quero-os ouvir estalar ainda mais. E mais!

            Ah, os seus explosivos crânios! Os seus crânios explosivos! Agradável e silenciosamente explosivos

 

            Ponho o meu ar mais alucinado. As minhas mãos parecem crescer para lhes apertar o pescoço. Todo. A todas. Uma a uma. (Aguardam em fila a sua vez calma e silenciosamente.) Esbugalho mais os olhos e dou gargalhadas orgásmicas. Só de imaginar  o poder de impedir o ar de lhes chegar aos álveolos.

            Ah, o prazer da asfixia. Da asfixia que silencia. E tranquiliza. Permanentemente.

 

            Deixai-me fumar um cigarro. Dai-me um pouco mais de paciência. Mais logo rezo uma confissão.


sinto-me: Explosiva!
música: Pink Floyd - Come in Number 51, Your Time Is Up


Flá @ 10:57

Qua, 10/04/13

          Se for para tirar à sorte fico com o último papel. Fico com o que sobrar. Com aquele que ninguém quiser tirar. Que o meu azar seja a sorte dos outros.

 

            Vai sair o pior…

            Vai sair demência!

 

            Demência física. Demência mental. Ambas!

            Para a minha-tua(-nossa) velhice!

           

            E daqui a uns anos (décadas!) vão começar as dores musculares. Absurdas. Lancinantes. Incapacitantes. E o meu fémur vai acabar por se partir com um cancro ósseo. E terão de me tirar o útero. Depois, talvez, acabe por metastizar outra vez para um cancro na mama. (Talvez perca uma das tuas adoradas mamas.) E o cabelo caramelo vai acabar por cair. Não resistirá muito. E quando tiveres que me mudar fraldas borradas é que vai mesmo ser de homem. Ou mulher! Se te calhar a incapacidade a ti. E perderes as idas à bola e os teus caracóis de carvão. E deixares de reconhecer o teu amado clube. E te esqueceres, simplesmente, do nome dos nossos tão estimados 2 filhos. E! E será que aguentamos?

 

            Calhou que vou-vais(-vamos) ter conversas desconexas. Avariadas. Infantis! conversas inapropriadas. Demasiado inapropriadas. E que vão acontecer demasiadas vezes. Pode ser que evolua para uma ausência total de ideias. Pode ser que evolua para uma cabeça completamente vazia. Para uma verdadeira cabeça de vento. Calhou que vou-vais(-vamos) ficar “maluquinha-o(-os)” na velhice!

 

 

            É este o fim do romance? Da pedra filosofal que todos procuram! É razoável exigir-se algo assim? É aceitável? É legitimo o Amor pedir-nos tudo? Nestes termos! Nestas proporções grotescas! É isto que o Amor nos pede? É assim que se acaba? É esta a resignação que nos espera? É esta dedicação anuladora que temos desenhada nas estrelas? É suposto voltarmos a passear de mão dada como se não soubéssemos desta possibilidade distante? É assim? É isto? É suposto eu aceitar? Tu aceitares? Nós aceitarmos!

 

            É! Absolutamente.

            Aceito!

 

 

Se algum dia me chegares a fazer a pergunta é consciente desta possibilidade que te responderei!


música: All I need - Radiohead
sinto-me: Consciente


Flá @ 21:00

Qua, 03/04/13

            Preciso que me fodas! Como se nunca o tivesses feito. E a verdade, é que preciso como nunca antes precisei. E preciso que o faças como nunca antes o fizeste.

            Preciso que me fodas como se nunca o tivesses feito antes!

            Esquece a minha imagem doce. Doce, toda vestidinha e engomadinha. Esquece a minha imagem doce ao adormecer nos teus braços. Esquece que há possibilidade de doçura na minha carne.

            Sou só um pedaço de carne que vais querer foder. Um pedaço de carne que vais querer que te peça clemência.

            Quero destruir esse ar de menino bem comportadinho. Quero destruir esse cabelo empertigado. Quero arruinar a tua camisa sem vincos.

            Eu bem sei que o meu decote te deixa grande. Que o meu cabelo pelo meio das costas te deixa grande. Que até as minhas sardas te deixam grande.

            Por isso quero que me fodas!

            Fode-me como se andasses há meses a olhar-me. A olhar para o meu decote. A olhar para o meu rabo. A olhar para o modo admirável como abano o rabo enquanto danço.  Fode-me como se andasses há meses a bater punhetas a pensar em mim.

            Faz-me sentir as tuas imaculadas mãos. Faz-me sentir tudo do teu tão imaculado corpo. Imaculado e grande.

            Bebé-estou-tão-mas-tão-incrivelmente-excitada!

 

 

            Esta foi a minha tentativa de te compor um tango.


música: She's a go go dancer - Wraygunn
sinto-me: De cabeça perdida!


Flá @ 00:50

Seg, 05/11/12

Confidencio, hoje, que é nas minhas viagens de autocarro que me sinto mais livre. É nas minhas viagens de autocarro, de phones postos, que a mente mais me voa. Divaga. Divaga. Divaga. Foge-me, completamente do controlo. Fico, realmente, esmagada pela fraca condição humana. E depois, com a miséria a decorrer-me nos olhos, nas ruas, faço jogos parvos. Faço jogos de antónimos. E lembro-me de coisas parvas. Despropositadas. Macabras…

           

Ocorreu-me a lembrança das crianças que brincam em cemitérios. Crianças que pulam em cima de gavetões cheios de caixões de alumínio. Caixões de alumínio lacrados. Crianças que pulam por cima de corpos em decomposição. Crianças que brincam em mausoléus. Que fazem deles os seus palácios. Crianças que enterram os pezinhos na areia alaranjada que cobre os novos mortos.

 

Depois volto ao trânsito. Ao frenesim do pára arranca. Das passadeiras. Dos semáforos. Dos motores. Do fumo dos escapes. Dos cigarros fora das janelas. Das apitadelas. Dos resmungos. Das caras feias. Das gesticulações de impropérios. Dos autocarros. Das crianças que largam a mão das avós e correm para a estrada. Das vozes. Dos telemóveis a tocar. Dos grupos de adolescentes que atravessam a estrada aos apalpões envergando roupas espalhafatosas. E voltam a fugir-me as ideias. Agora para o mar. Para o mergulho.  Para o mergulho gelado. Que contrai os músculos. Que relaxa a mente. Que liberta. Que silencia. Que tira e dá vida.

 

Depois imagino as paradas militares. Vistosas.  Ditatoriais. Anárquicas. Certinhas. Dos milhares na assistência. Da assistência amorfa e terrivelmente silenciosa. E imagino qual será o antónimo das paradas militares….e só me ocorrem as festas de Natal das primárias e pré-primárias. Com danças tradicionais. Descordenadas. Com olhares enternecidos. Com gargalhadas.  Puxões. Com estrelinhas, flores e corações por todo o lado.

 

Solto um sem fim de sorrisos. Sozinha. Feita retardada. Rio-me sozinha nos autocarros! Falo com gentileza para todos com quem me cruzo.

 

E é assim que me surgem a maior parte das ideias. É, também, nas minhas viagens de autocarro que faço a maior parte dos meus rascunhos. No meu iPod.

Penso no Existencial.

No visível.

No inocente.

No invisível.

No insignificante.

Na simplicidade.

No idiota.

No palpitante.

No excitante.

No extasiante.

No complexo.

No fim!


música: Everybody's Gotta Learn Sometime - Beck
sinto-me: Quase confessada!


Flá @ 21:25

Sab, 29/09/12

   A tua voz de manhã abre-me todos os poros. Abre-me o apetite. Estilhaça-me a moralidade. Atira para longe todos os pensamentos civilizacionais possíveis ao acordar. Altera-me as vontades para todo o dia. Para todo o santo dia!

Não me sei já capaz de te beijar civilizadamente. Não sei chegar ao café e beijar-te civilizadamente. Esses teus lábios…essa tua voz!

 

   Bom dia. Bebé, gostas quando eu sou marota? Muito marota? É que hoje é sem querer e é irrepreensível. Não tens outra opção se não a de ficares quietinho. Caladinho. Vou-me aproximar muito de ti e contar-te o que secreta e doentiamente me apetece fazer desde que vi a tua chamada de manhã. Sim, este decote era mesmo imperativo. Todas as golas me queimavam hoje.

 

   Apetece-me pegar em ti pelo braço e levar-te daqui. Levar-te para um hotel rasca ou para um motel cheio de pinta. Para qualquer lugar onde não nos importemos de fazer corar os vizinhos. Vou querer que tenha secretária.

Para quê? Ora! É fácil! Lembrei-me que podia descansar lá as pernitas enquanto me dizes se dormiste bem de noite. Vais, como agora, fazer o que eu te disser. Vais, tirar todas as peças de roupa que te apeteçam. Deixas que seja eu a tratar das tuas calças. Apenas das tuas calças. Adoro que ganhem volume antes de caírem no chão. Uma mão desavergonhada e a minha língua a passear nos teus lábios ajudam a concretizar todos os meus desejos. Mas sabes bem que não consigo ficar por aí. Paro quando mo implorares. Como de costume. Deixo que sejas tu a descobrir o que me apetece depois. Tenho uma pista: afasta-me os joelhos. Provoca-me a gemidos escandalosos. Pornograficamente escandalosos!

   Permitirei, depois, que me tires a franja dos olhos para que possas ver exactamente o que ainda há para fazer. Há muito ainda a fazer! E tempo é coisa que em dia de folga não falta.

   E nem penses em chegar logo ao fim! Nem penses… Vais-me foder até explodirmos os dois de prazer! Freneticamente…

 

   Meu menino, de hoje não passa!


sinto-me: Adormecida
música: My Stomach is the most violent of all of Italy


Flá @ 22:33

Dom, 26/08/12

 

Questiono apenas o questionável.

 

Sou uma pessoa básica.

 

Há já muito que desisti dos olhares. Sedutores. Enigmáticos. Doces. Traiçoeiros. Viciantes… Malditos sejam os olhares! Com tudo o que têm estampado e com todas as más interpretações que me levam a fazer. Tiram-me do sério. Mas deixo-os, para mim, tão questionáveis como sedutoramente viciantes.

 

Infelizmente, por ser uma pessoa que questiona apenas o questionável sou ainda uma pessoa incapaz de avançar sobre o valor das palavras. Que não consegue parar de se questionar, sobre o questionável valor das palavras. Que valor? Que importância? Real ou dedutiva? Que relevância jurídica?

 

O explicito ou um implícito?

 

É um diz que disse!

 

Estou cansada. Cansada. Cansada do diz que disse. Da falsidade. Da superficialidade. Da leviandade. Merda. Já não suporto o diz que disse! 


sinto-me: Fora do sério!
música: Video Games - Lana del Rey


Flá @ 23:55

Seg, 25/06/12

De Maio para cá que os pesadelos têm ocupado demasiado a minha mente. A minha mente inconsciente. Nas minhas noites solitárias de Verão. Claras. Barulhentas. Abafadas. Peganhentas. De Maio para cá que os pesadelos têm ocupado demasiado a minha mente. A minha mente consciente. Nas manhãs de chuviscos. Frias. Opacas. Feitas de correrias. Peganhentas. De Maio para cá que os pesadelos têm ocupado demasiado a minha mente alienada, ao escurecer.

 

 

De Maio para cá que sofro de insónias doentias. E peganhentas.

 

Preciso que alguém me ajude a ter boas noites de sono. Ou que, simplesmente, me tranquilize as insónias num abraço.


sinto-me: "Tás a fazer?"
música: Hey, sister ray - Legendary Tigerman and miss Rita Redshoes


Flá @ 02:35

Sex, 01/06/12

Um dia pararão de cair pássaros mortos das árvores. Um dia pararão as enxurradas de sapos. As estatísticas deixarão de fazer notícias. Desaparecerão as notícias. Deixarão de haver notícias para noticiar. Tudo passará a ser calmo. Sereno. Tranquilo. Um dia os filhos ficarão crescidos e as preocupações desaparecerão. Depois vão chegar os netos. Que vão ficar crescidos e encaminhados. Calmos. Serenos. Responsáveis. Felizes. E seguros. Aí, sim, desaparecerão para sempre as noites de trovoada. Deixará, simplesmente, de existir qualquer tipo de carga elétrica a pairar nas nuvens.

 

Um dia vou deixar de espreitar pela janela. Deixarei de ficar esmagada com as pessoas que vão derretendo nas ruas. Que vão derretendo de miséria. Que vão derretendo de podridão. Que vão derretendo de burrice e estupidez. Um dia deixarei de ficar esmagada por doenças oncológicas. Por acidentes frontais que vitimizam mortalmente amigos da família. Um dia todas as preocupações preocupantes desaparecerão. Definitivamente.


Quero morrer entre um abraço de um neto e um bordado para um bisneto. Um abraço afectivo. E um bordado imperecível. Haverá morte mais feliz?

 



sinto-me: Com insónias! Obesas!
música: Lux Aeterna - Clint Mansell


Flá @ 11:20

Qui, 31/05/12

Os nossos quadros de acrílico parecem amarelecidos pela passagem dos Verões. Lembro-me bem de os pintarmos. Ao fim das nossas tardes. À beira rio. De pintarmos ao Sol. De pintarmos de joelhos no chão e em cima da mesa grande da cozinha. De deixarmos a secar os troncos que íamos pintando na Varanda. Misturavas tintas e as cores apareciam prontas para eu as dar às nossas telas (dos chineses). Lembro-me de insistir para que déssemos aos nossos quadros uma mão de conservador. Deixaste andar. Fui-me esquecendo de voltar a insistir. Assim foram sendo pendurados e oferecidos. Assim têm ficado amarelecidos com cada dia de Sol que lhes bate.


Assim, vão amarelecendo, também, os nossos dias.


Hoje, à noite, devias fechar os olhitos comigo. Amanhã ao acordar davas-me um beijinho na boca e tornarias o meu dia menos amarelo.


Por favor, fica.

 

 


música: Katherine Kiss Me - Franz Ferdinand
sinto-me: Amarela!


Flá @ 02:35

Qua, 16/05/12

Tenho engordado os meses de tanto raciocinar tudo. Cada olhar. Cada palavra.
D’agora em diante não vou voltar a dramatizar.  Desculpa-me, os dramas racionalmente irracionais. Desculpa-me por te falar de mais e por te raciocinar (também) de mais.

 

Temos que degredar todo o espaço que temos guardado para as nossas tentativas vãs de hiper lucidez. Nem sempre tem de haver um beijo antes de dormir. Não vou dramatizar se não mo deres pessoalmente ou se não me mandares por carta a intenção de me dares um beijo ao deitar.

 

Hoje não há razão! Não quero argumentos. Ou falsas promessas. Nada!

 

Quero ser pueril! Não quero pensar…. Mas é inevitável não sentir a tua falta nas minhas manhãs. A tua voz faz-me falta. O desejo da materialização dos nossos corpos nus faz-me falta. Fazes-me falta de manhã. Pronto! Não é racional é emocional (de emoção) esta falta que me fazes. Pronto!

 

De hoje em diante não quero pensar no tom distante com que me terás ou não falado. Não quero pensar no tom doce que poderia haver, mas que nem sempre há, nem tem de ser constante. Ou existente. Se quer! Não o quero fingido. Não vamos fingir. Não vamos pensar. Não vamos dramatizar.

 

Mas hoje...hoje, espero que estejas disponível. Totalmente, disponível para mim.

 

Espero que estejas disponível para conhecer para lá do cinto de ligas e do batom vermelho.  Hoje, espero ver-te despojado de toda a razão.

 

Depois? Bebé, depois fumamos um cigarro e falamos de pintura!


sinto-me: Racionalmente irracional!
música: Lana Del Rey - Video Games

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