Vim até aqui, hoje, para te contar todos os meus segredos. Subi, propositadamente, todos os degraus, que me roubam o fôlego, para te falar de mim. Subi-os sem que me estivesses a empurrar nas costas. Hoje a conversa sou eu. Não politica. Futebol. Religião. Ou economia. Hoje quero egoistamente falar de mim. Só de mim.
Sou uma bonequinha muito frágil e cheia de medos.
Lembro-me, indistintamente, do que era antes de te conhecer. Uma pessoa diferente. Cinzenta. Triste. Com sonhos vazios. Queria viver sozinha. Nada de animais. Ou vizinhas a pedir sal ou ovos. Queria viver comigo e para mim. Procurar sorrisos assim. Desta altura mantenho um segredo. Sempre que vejo uma ambulância penso “espero que Deus salve e guarde todos os que vão ali dentro”. É verdade. Penso-o sempre. Sem excepção. Acho que já o faço de forma instintiva. Acho que é do hábito. Tenho este segredo há anos. És o primeiro a saber dele.
Há dias fiz uma coisa que te deixou triste. Eu sei. Ler textos antigos deixa-te triste. Com medo. Talvez. Não sei. Desculpa-me, meu Amor. Não o fiz com o intuito de recordar sentimentos. Lugares. Pessoas. Queria ver o que tinha mudado na forma como me dou com as palavras. Não foi difícil. Antes escrevia triste. Contigo aprendi a escrever feliz. Descobri que é possível escrever-se feliz. Que existe uma escrita feliz. É muito difícil escrever sobre a felicidade. Sinto-me esgotada. Parece que há tão pouco a dizer. Mas não é verdade. Eu é que não consigo. Não sei. Desculpa-me, meu Amor. Merecias que o conseguisse e soubesse por ti. Para ti.
Temos uma história perfeita. Uma relação perfeita. Não te conheço, ainda, defeitos. Nunca discutimos. Nunca nos zangamos. Nada. Não há nada a apontar. Isto assusta-me. Tenho medo que te fartes do cheiro que deixo na almofada. Ou que te habitues tanto a ele que deixes de o reparar. Que te fartes da nossa felicidade constante. Que ela se torne chata para ti. Aborrecida. Repetitiva.
Vou contar-te um último segredo…o meu novo sonho é casar, e, ter um menino, contigo. Uma casa no campo com um alpendre. Um cão chamado Confúcio. E fazer-te salame de chocolate todas as semanas.
Sou uma bonequinha sem segredos para ti.