De Maio para cá que os pesadelos têm ocupado demasiado a minha mente. A minha mente inconsciente. Nas minhas noites solitárias de Verão. Claras. Barulhentas. Abafadas. Peganhentas. De Maio para cá que os pesadelos têm ocupado demasiado a minha mente. A minha mente consciente. Nas manhãs de chuviscos. Frias. Opacas. Feitas de correrias. Peganhentas. De Maio para cá que os pesadelos têm ocupado demasiado a minha mente alienada, ao escurecer.
De Maio para cá que sofro de insónias doentias. E peganhentas.
Preciso que alguém me ajude a ter boas noites de sono. Ou que, simplesmente, me tranquilize as insónias num abraço.
Um dia pararão de cair pássaros mortos das árvores. Um dia pararão as enxurradas de sapos. As estatísticas deixarão de fazer notícias. Desaparecerão as notícias. Deixarão de haver notícias para noticiar. Tudo passará a ser calmo. Sereno. Tranquilo. Um dia os filhos ficarão crescidos e as preocupações desaparecerão. Depois vão chegar os netos. Que vão ficar crescidos e encaminhados. Calmos. Serenos. Responsáveis. Felizes. E seguros. Aí, sim, desaparecerão para sempre as noites de trovoada. Deixará, simplesmente, de existir qualquer tipo de carga elétrica a pairar nas nuvens.
Um dia vou deixar de espreitar pela janela. Deixarei de ficar esmagada com as pessoas que vão derretendo nas ruas. Que vão derretendo de miséria. Que vão derretendo de podridão. Que vão derretendo de burrice e estupidez. Um dia deixarei de ficar esmagada por doenças oncológicas. Por acidentes frontais que vitimizam mortalmente amigos da família. Um dia todas as preocupações preocupantes desaparecerão. Definitivamente.
Quero morrer entre um abraço de um neto e um bordado para um bisneto. Um abraço afectivo. E um bordado imperecível. Haverá morte mais feliz?