Vi na televisão que todas as pessoas precisam de tempo. Tempo para conseguirem pronunciar palavras. Sentimentos. Tempo para aprenderem coisas básicas. Tempo. Tempo. Tempo. Todos precisam de tempo. Eu acho que precisam de vontade. Coragem. Paixão. Mas se eles acham que é tempo…

                O tempo tem fim? Não, não é finito! Então para que querem eles mais tempo? Para que querem todos mais tempo? Pobres crentes! O tempo não lhes daria o que anseiam. O tempo não dá nada. Nem nada traz. Nem o esquecimento. O tempo não ajuda a esquecer. É mentira!

                Desde que te conheço que tudo ganhou para mim uma nova dimensão. Os espaços. As pessoas. Os sentimentos. O tempo. Oh sim! O tempo…O tempo é infinito, igual para todos…é o que todos sabem que é. Mas pode ter várias dimensões. Aproveitamentos. Tamanhos e até cores.

                Transformámos o pouco em muito. Como se tivéssemos descoberto a melhor e a mais irrealizável das alquimias. A pedra filosofal. Como fizemos? Não sei! Talvez seja daquelas receitas que não se passa para a geração seguinte. Como que um bolo que uma cozinheira só consegue fazer uma vez na vida. Ou uma frase solta (sem livro) que eleva um homem à imortalidade.

                Sinto-me desgastada. Não por ti. Ou por nós. Muito menos pela felicidade constante que sinto. Que me fazes sentir. Não! Nada disso… Acho que eu própria é que estou gasta. Tenho, já, todas minhas palavras usadas. Todas as minhas ideias foram já postas em prática. E agora? Não te tenho escrito cartas de amor porque não sei que te dizer nelas. Já te escrevi sobre os meus medos. Sobre a minha infância. De como são as minhas noites. Já te escrevi sobre o que sinto por ti. Do que és. Do que me fazes sentir. Não encontro mais sobre o que te falar. E agora? Deixo-te assim? Sem mais nada? Será que não tenho mais nada em mim que te possa oferecer? Acabei? Assim?

                Sempre sonhei em encontrar a pessoa. Aquele. Para quem escrever cartas de amor. Fazer bolos de chocolate. Alguém que quisesse muito ser velhinho comigo. Encontrei-te. Não te posso enfastiar do que sou. Uma pessoa consumida. Sem palavras novas. Ou se quer renovadas. Sem ideias. Ou imaginação. Sem nada de novo. Para ti. Tendo, diariamente, melhorar-me para ti.

                Estremeço só de pensar que o tempo, mesmo infinito, pode não me chegar. Nem o tempo que transformámos para nós. Aquele que só nós conhecemos e admiramos. Temo não ter tempo para ter tantas ideias ou palavras como as que acho que te devia confiar. Mas depois…depois tu apareces ao longe, a sorrir, e, já não tenho mais medos ou preocupações. Sei-te tão feliz como eu. E não há preocupações. E aí vejo que temos, exactamente, o tempo de que precisamos. Assim será para sempre. Todo o tempo do mundo para nós. E todo o mundo, também.