E do nada é já noite às 6h da tarde. Do nada o vestido preto com a camisa deixa de fazer sentido ou, sequer, parecer bem sem o sobretudo.
Apresso-me…os sapatinhos de tamanho 33 tocam leve e rapidamente a calçada intermitente. É tardíssimo. Saltam pequeninos para o degrau do autocarro. Credo…os passos apressados e saltitantes fizeram com que a cafeína bebida tivesse outro efeito que não o de manter a mente mais desperta e atenta. Só quero vomitar. Preciso de aliviar o estômago que nervoso, palpitante e enjoado não me deixa concentrar nos olhos pesados ou nas conversas tontas, soltas e aleatórias que poderia ouvir.
A música pede por favor. Pede silêncio. Pede a ausência de surpresas. Pede que não haja mais alarmes. Mas os galhos das oliveiras e das nogueiras saltaram as sebes e esmurram o autocarro a cada curva. Não me é possível dar descanso à mente que me instiga a dormir. Não consigo…o caminho é demasiado irregular. Turbulento de mais para poder pensar no que quer que seja para além das oliveiras ou das nogueiras a esmurrarem o autocarro num som que primeiro é estrondoso e depois áspero e estridente. Mais as curvas, as lombas, as paragens, os buracos…há demasiada agitação. Não é possível o silêncio, a ausência de surpresas ou de alarmes como a música que se ouve ao fundo pede.
E do nada já passou um ano…
 
Mas compreendi a metáfora para além de qualquer ruído.