Se for para tirar à sorte fico com o último papel. Fico com o que sobrar. Com aquele que ninguém quiser tirar. Que o meu azar seja a sorte dos outros.
Vai sair o pior…
Vai sair demência!
Demência física. Demência mental. Ambas!
Para a minha-tua(-nossa) velhice!
E daqui a uns anos (décadas!) vão começar as dores musculares. Absurdas. Lancinantes. Incapacitantes. E o meu fémur vai acabar por se partir com um cancro ósseo. E terão de me tirar o útero. Depois, talvez, acabe por metastizar outra vez para um cancro na mama. (Talvez perca uma das tuas adoradas mamas.) E o cabelo caramelo vai acabar por cair. Não resistirá muito. E quando tiveres que me mudar fraldas borradas é que vai mesmo ser de homem. Ou mulher! Se te calhar a incapacidade a ti. E perderes as idas à bola e os teus caracóis de carvão. E deixares de reconhecer o teu amado clube. E te esqueceres, simplesmente, do nome dos nossos tão estimados 2 filhos. E! E será que aguentamos?
Calhou que vou-vais(-vamos) ter conversas desconexas. Avariadas. Infantis! conversas inapropriadas. Demasiado inapropriadas. E que vão acontecer demasiadas vezes. Pode ser que evolua para uma ausência total de ideias. Pode ser que evolua para uma cabeça completamente vazia. Para uma verdadeira cabeça de vento. Calhou que vou-vais(-vamos) ficar “maluquinha-o(-os)” na velhice!
É este o fim do romance? Da pedra filosofal que todos procuram! É razoável exigir-se algo assim? É aceitável? É legitimo o Amor pedir-nos tudo? Nestes termos! Nestas proporções grotescas! É isto que o Amor nos pede? É assim que se acaba? É esta a resignação que nos espera? É esta dedicação anuladora que temos desenhada nas estrelas? É suposto voltarmos a passear de mão dada como se não soubéssemos desta possibilidade distante? É assim? É isto? É suposto eu aceitar? Tu aceitares? Nós aceitarmos!
É! Absolutamente.
Aceito!
Se algum dia me chegares a fazer a pergunta é consciente desta possibilidade que te responderei!
Preciso que me fodas! Como se nunca o tivesses feito. E a verdade, é que preciso como nunca antes precisei. E preciso que o faças como nunca antes o fizeste.
Preciso que me fodas como se nunca o tivesses feito antes!
Esquece a minha imagem doce. Doce, toda vestidinha e engomadinha. Esquece a minha imagem doce ao adormecer nos teus braços. Esquece que há possibilidade de doçura na minha carne.
Sou só um pedaço de carne que vais querer foder. Um pedaço de carne que vais querer que te peça clemência.
Quero destruir esse ar de menino bem comportadinho. Quero destruir esse cabelo empertigado. Quero arruinar a tua camisa sem vincos.
Eu bem sei que o meu decote te deixa grande. Que o meu cabelo pelo meio das costas te deixa grande. Que até as minhas sardas te deixam grande.
Por isso quero que me fodas!
Fode-me como se andasses há meses a olhar-me. A olhar para o meu decote. A olhar para o meu rabo. A olhar para o modo admirável como abano o rabo enquanto danço. Fode-me como se andasses há meses a bater punhetas a pensar em mim.
Faz-me sentir as tuas imaculadas mãos. Faz-me sentir tudo do teu tão imaculado corpo. Imaculado e grande.
Bebé-estou-tão-mas-tão-incrivelmente-excitada!
Esta foi a minha tentativa de te compor um tango.
A tua voz de manhã abre-me todos os poros. Abre-me o apetite. Estilhaça-me a moralidade. Atira para longe todos os pensamentos civilizacionais possíveis ao acordar. Altera-me as vontades para todo o dia. Para todo o santo dia!
Não me sei já capaz de te beijar civilizadamente. Não sei chegar ao café e beijar-te civilizadamente. Esses teus lábios…essa tua voz!
Bom dia. Bebé, gostas quando eu sou marota? Muito marota? É que hoje é sem querer e é irrepreensível. Não tens outra opção se não a de ficares quietinho. Caladinho. Vou-me aproximar muito de ti e contar-te o que secreta e doentiamente me apetece fazer desde que vi a tua chamada de manhã. Sim, este decote era mesmo imperativo. Todas as golas me queimavam hoje.
Apetece-me pegar em ti pelo braço e levar-te daqui. Levar-te para um hotel rasca ou para um motel cheio de pinta. Para qualquer lugar onde não nos importemos de fazer corar os vizinhos. Vou querer que tenha secretária.
Para quê? Ora! É fácil! Lembrei-me que podia descansar lá as pernitas enquanto me dizes se dormiste bem de noite. Vais, como agora, fazer o que eu te disser. Vais, tirar todas as peças de roupa que te apeteçam. Deixas que seja eu a tratar das tuas calças. Apenas das tuas calças. Adoro que ganhem volume antes de caírem no chão. Uma mão desavergonhada e a minha língua a passear nos teus lábios ajudam a concretizar todos os meus desejos. Mas sabes bem que não consigo ficar por aí. Paro quando mo implorares. Como de costume. Deixo que sejas tu a descobrir o que me apetece depois. Tenho uma pista: afasta-me os joelhos. Provoca-me a gemidos escandalosos. Pornograficamente escandalosos!
Permitirei, depois, que me tires a franja dos olhos para que possas ver exactamente o que ainda há para fazer. Há muito ainda a fazer! E tempo é coisa que em dia de folga não falta.
E nem penses em chegar logo ao fim! Nem penses… Vais-me foder até explodirmos os dois de prazer! Freneticamente…
Meu menino, de hoje não passa!